terça-feira, 21 de agosto de 2012

Incoerente... eu sei!

Eu também nunca prometi o contrário.
Eu juro que fiz um esforço por me afastar destas andanças, pelo menos das publicações no blog.
Mais que não fosse para fazer um refresh mental e espiritual e depois voltar melhor...ou não, quem sabe?!
Ao que parece, há certas coisas para as quais não tenho força de vontade nenhuma, e com isto coloco-me numa posição de incoerência para comigo e convosco, e nem imaginam a ralação que me assalta o espírito... Creiam-me... nem me anda a deixar dormir!

Posto isto, queria apenas deixar uma palavrinha à minha tia (avó) Arlinda.

Querida tia,

Lembro-me de ter sido apresentada a ti como a neta da Carolina, mas ainda me lembro melhor de que quando olhei para ti e pensei que tu eras a avó Carolina. O cabelo preto pontuado com leves ondulações grisalhas era idêntico, o sorriso aberto e sincero era igual e as feições amigáveis e disciplinadoras eram tão similares que dificilmente vos distingui nos primeiros tempos. 
Com o tempo comecei a notar ligeiras diferenças na maneira de estar e de ser, a avó Carolina era uma força da natureza, não havia melhor personificação da coragem e força de vontade do que ela. Tu, por outro lado, eras mais frágil, mais senhoril e sentimental. Não o digo como um apontamento de defeito, muito pelo contrário, os dias que passava com as duas acabavam por ser equilibrados entre os ensinamentos sobre o quão pequenos nos podemos sentir ainda que sejamos o ser mais corajoso à face do planeta.

A mais querida recordação que guardo comigo é no Verão em que passas-te uns dias lá em casa. Durante o dia passeávamos as três pelas ruas empoeiradas, roubávamos as flores dos vizinhos, que tombavam dos seus jardins para o passeio, íamos ao café onde cada uma guerreava pela oportunidade de pagar a conta, algo que ainda hoje me faz espécie, mas adiante.
À noite a avó, com a doença a pesar-lhe nos ombros adormecia sempre primeiro, e tu vinhas à minha cama contar-me uma história daqueles livros já velhos e usados, com capas feias. A história que sempre me ficou na memória é a do cordeirinho, ainda hoje quando lá vou a casa tento procurar pelo livro que tinha essa história mas em vão, ainda não o consegui encontrar, ou este, simplesmente não quer ser descoberto.

Quando anos mais tarde, já eu não tinha noticias tuas há uns bons tempos, o avô me diz que também tu eras afectada pela doença, desta feita não era uma com cura, pelo menos definitiva, o meu coração definhou por saber que a minha tia, a visão da minha avó também não estaria cá muito mais tempo. Pior foi quando soube que esta doença ao invés de te impossibilitar fisicamente, te roubava a memória.
Ias esquecer-te de como eu te confundia sempre com a avó, ias esquecer-te que a minha história preferida era a do cordeirinho, ias esquecer-te de mim e do quão importante eras para mim...

Agora...
Espero que tenhas o descanso merecido. 
E diz à avó que sinto a falta dela...





2 comentários:

Xs disse...

Destas incoerências eu gosto!
Bem-vinda de volta! :)

Sufocada disse...

Eheheh muito obrigado Xs :D