segunda-feira, 25 de junho de 2012

Horror Moments - Casa Assombrada II

A intensidade da luz solar irrompeu sem piedade pela janela do seu quarto e às 9.00 da manhã teve que se levantar sem conseguir dormir mais. Mais uma vez o silêncio reinava na enorme casa, ainda ninguém se tinha levantado. Olhou para a cadeira ao lado da sua porta, mais por reflexo do que por esperar vê-lo lá, e constatou que estava sozinha. Sem querer que o silêncio fosse interrompido caminhou em pezinhos de lã para a casa de banho que partilhava com o resto das crianças da casa, e fez a sua higiene pessoal, quando voltou ao seu quarto reparou com estranheza que havia um conjunto de roupa em cima da cama. Não se lembrava de ter escolhido a roupa antes de ter ido tomar banho. De sobrolho carregado aproximou-se da cama onde viu um top laranja justo e uma saia branca, comprida. Aquela era a sua saia preferida, e normalmente vestia-a sempre com aquele top ou com outro parecido mas de cor verde.

Não sabia o significado daquilo, sentiu-se confusa e as suas mãos tremiam ligeiramente com o pânico de estar a ficar com alucinações. Sem saber porque, achou que o melhor era vestir aquela roupa, encaminhou-se depois para o pequeno espelho que tinha por cima da cómoda para arranjar o cabelo castanho assimétrico. Nunca tinha gostado de apanhar o cabelo e por isso deixou-o solto, do lado direito chegava-lhe ao ombro e do lado esquerdo ficava mesmo por debaixo da sua orelha, escolheu um brinco branco para a sua orelha esquerda e uma argola de prata, pequena, para a orelha direita. Os seus pais costumavam olhar-lhe com reprovação por não ser como as outras raparigas, com cabelo comprido por igual, brincos iguais nas duas orelhas e com unhas pintadas de cor-de-rosa, por exemplo. Ela fazia por não ficar incomodada com a atitude deles, já tinha doído mais ver aquele olhar, agora passava-lhe ao lado.

Calçou uns chinelos laranja e foi para a cozinha onde preparou o seu pequeno-almoço habitual, um copo de leite branco, fresco, e umas bolachas de água-e-sal com doce de morango. Ia cumprir o que tinha pensado na noite anterior, com o sol a brilhar lá fora e com uma ligeira brisa que abanava levemente as árvores, estava um dia perfeito para explorar o bosque que circundava a mansão.

Saiu pela porta da frente e desceu os três degraus que davam para o terreno plano à sua frente, inspirou fortemente e ficou encantada com o aroma florestal, a mistura de cheiros das várias flores coloridas que tinham despontado com o inicio do dia, o calor dos raios solares que se fazia sentir na sua pele, os chilrear dos pássaros e o barulho das folhas a embaterem umas nas outras nas árvores abanadas pelo vento calmo. Virou-se para poder ver como era aquela mansão durante o dia, à noite tinha um ar misterioso e sombrio, próprio de um filme de terror, mas de dia... de dia era bela, no alpendre quase podia ver uma cadeira de baloiço ocupada por uma senhora de idade a tricotar e os netos a correrem em redor dela maravilhados com a hipótese de poderem ter um camisola nova e quente para o inverno que se avizinhava. Precisava de uma pintura, pois a antiga cor amarela já estava escurecida e lascada, as heras que subiam pelas paredes davam um ar algo austero, mas se fossem aparadas ficaria melhor.

Suspirando voltou-se de novo para o bosque denso que tinha à sua frente e percorreu o caminho de terra batida que conduzia na sua direcção. Passados uns minutos já se tinha entranhado tanto naquela floresta que já não tinha a certeza de saber o caminho de volta, mas isso não a preocupava. Nunca se tinha sentido tão bem, a sensação de liberdade que sentia ao estar rodeada apenas de natureza era fantástica e se pudesse ficava ali o resto da sua estadia naquela casa.

A uns metros dali, ouviu um restolhar nos arbustos, assustada  escondeu-se atrás de uma enorme árvore, à espera que saltasse um javali e a atacasse. Ao invés, quando olhou com mais atenção na direcção do barulho viu uma figura humana, não, não podia ser humana, tinha uma transparência pouco comum, os raios solares atravessavam-se na sua figura e a pequena porção de cabelo preto que conseguia ver não se mexia com o vento. Era ele, nunca o tinha visto nitidamente, não sabia qual o seu verdadeiro aspecto, mas sabia no seu intimo que estava a ser observado pelo estranho que andava pela casa durante a noite. A adrenalina que se tinha acumulado no seu peito foi-se desvanecendo dando lugar à curiosidade, será que era agora que ia finalmente conhecê-lo? E se ele, ao contrário do que ela pensava, lhe quisesse fazer mal? Mas afinal o que era ele, não podia ser humano, não fazia sentido. Olhou para si própria para ver se o sol também a atravessava no corpo, estúpida - pensou, claro que não, voltou a olhar para o arbusto na esperança de poder perguntar-lhe o que era, e o que queria dela, mas já não havia lá ninguém. O arbusto abanava-se ligeiramente com o vento, a correr para poder ter a certeza foi ver se estava mesmo sozinha de novo.

Estava, tinha-o perdido de novo. Naquele momento tomou a sua segunda decisão, nessa noite iria à cave com o propósito de o encontrar e finalmente obter as respostas que tanto se remexiam dentro de si.

Abanando a cabeça, escolheu uma clareira onde o sol a cobria por inteiro e foi-se lá deitar, fechando os olhos para poder aproveitar o delicioso calor, começaram a passar imagens na sua cabeça de como ele era, apesar do pouco que tinha visto, a sua imaginação já lhe dava um aspecto compacto, tirando a cara viu-lhe o corpo esquio e alto, o cabelo preto ondulado e a transparência... ele era transparente...



Gostava que quem leu me envia-se por email: sufocodepalavras@gmail.com, a sua opinião daquele que pode ser o fim deste... conto (chamemos-lhe assim). 

14 comentários:

Carla disse...

Sabes que não sou apreciadora do género e eis-me aqui aos pulinhos para querer saber se ela sempre foi à cave!

Claro que eu tenho umas quantas ideias do que poderia acontecer, mas voltamos à ideia anterior dos fantasmas e tal... ;)


Olha, só um conselho sobre a forma do teu texto. A leitura em hipertexto é diferente da que se faz no suporte de papel, por isso, experimenta deixa um parágrafo livre entre cada parágrafo escrito. Vai parecer maior, é certo, porém, a mancha gráfica torna-se menos densa e mais fácil de ler. Vale? :)

Sufocada disse...

Diz-me o que achas que pode acontecer daqui para a frente, não deverá influenciar a minha decisão porque a história já está toda pensada, só a divido por ser demasiado extensa, e porque a curiosidade subjacente a até a mim me dá vontade de continuar a escrever só para ver o que vai acontecer :P
Mas tenho curiosidade em saber o que quem lê pensa que vai acontecer, é como num livro, quando criamos teorias sobre o final e no fim somos (ou não) surpreendidos.

Se facilita a leitura vou fazê-lo :)
O tamanho não importa, quem quiser saber, lê e pronto :)

Xs disse...

FIM?!
JÁ??


Também gosto da foto!

Sufocada disse...

Xs, não sei, a história ainda não está escrita e por isso ando a pensar se acaba no próximo ou não :)

Xs disse...

Humm...
Então faça o favor de a prolongar, sim?

A tua Tuga já tem lugar de destaque no Até aos cem:

http://ateaoscem.com/desafio-bicharada

;)

Sufocada disse...

Ás suas ordens Xs ;)

A ideia está um máximo, parabéns!

POC disse...

Confirmo. A Uma Rapariga Simples tem razão. Dás parágrafos, e bem, mas talvez possas ainda melhorar um pouco, para não teres muito texto "ao mesmo tempo".

Parece-me que estás a escrever cada vez melhor, e que tens aí um Quêzinho de artista, de quem sabe escrever uma história interessante/inteligente.

Enfim, daquelas coisas que me fazem vomitar, do género da Uma Rapariga Simples, que continua armada em boa a mostrar "toma...incha! Escrevo melhor que tu!". Enfim, e estás a ir no mesmo caminho.
E assim eu abandono. Eu abandono.

Keep up the good work.

Sufocada disse...

Eu aceito as sugestões de estrutura de texto para que possa melhorar a vossa leitura, mas preciso é que me digas o que é que posso fazer para não parecer aquilo que tu disses-te.

Não vomites aqui sff, detesto limpezas!

Obrigada POC :)

POC disse...

Talvez mais parágrafos e espaçamento entre eles.
Mas a teu favor, este conto é intenso. Ou seja, é descritivo. E enquanto não parares de descrever o "tema A", não podes dar espaçamentos.

Só uma sugestão muito rápida: parágrafo "A uns metros dali" - quando começas com "Era ele", já podia ser outro parágrafo.
Ajuda a "descomplicar" o cérebro. Dá-lhe um momento de pausa, uma fracção de segundo que é como uma inspiração para prosseguir.

Carla disse...

Ainda bem, caro POC, que pude servir de escudo, para o ajudar a dizer tudo o que queria, citando-me a mim como autoridade. Muito bem, é assim que fazem os bons investigadores.

Mais informo, venerável POC, que as minhas opiniões já foram debatidas e contestadas num fórum privado, sendo que uma delas era risivelmente idiota.

Serve a presente resposta para o esclarecer em definitivo de que escrevo efetivamente melhor?

(Sufocada, querida, dá-me aí um copo de água (para o POC é apropinqua-me uma taça de linfa cristalina), porque se me secaram as pontas dos dedos com tanta verborreia.)

Carla disse...

Isso, POC, são características estilísticas. Frases mais curtas e mais parágrafos aumentam a intensidade do desenrolar da acção.

Frases longas e parágrafos longos dão densidade à escrita, muito ao gosto nos realistas e escritores do séc. XX.

Sufocada disse...

POC, percebido, assim que possa vou estudar melhor o texto para ver se devo fazer mais paragrafos porque tal como disses-te não fica bem interromper certos trechos :)

Uma Rapariga Simples, vá meninos sejam civilizados sff :P

Queres um bocadinho de açucar na água para acalmar a tua cólera?

E por favor, satisfas-me a curiosidade, o que é " apropinqua-me"? Sei que as minhas ligações internas entraram em curtocicuito depois de a ler :P

Carla disse...

Cólera? Onde? LOOL Nah, Sufocada, estava só a admirar a coragem do nobre POC.

@Priberam
apropinquar - Conjugar
v. tr.
Aproximar.

;)

Sufocada disse...

Esclarecida :D