sexta-feira, 29 de junho de 2012

Horror Moments - Casa Assombrada V

Transpondo a ombreira da velha porta a primeira sensação que teve, foi da completa nulidade da visão, a escuridão que ali estava era tão compacta que era absolutamente impossível ver alguma coisa em qualquer uma das direcções. Quando pensava em voltar para trás já com os pêlos da nuca eriçados do medo, a porta atrás de si fechou-se com um estrondo que a fez levar a mão ao peito e soltar um pequeno grito.

-Está ai alguém? - perguntou em voz baixa, como não obteve resposta optou por se encostar à parede que ladeava as escadas para poder descer apoiada, e quem sabe, encontrar o interruptor da luz.

O ambiente naquele espaço era pesado e húmido, o cheiro bafiento dificultava-lhe a respiração e os barulhos daquilo que pareciam gotas de água a cair e canos a ranger, estavam a deixá-la nervosa. Quando finalmente se acabaram as escadas, cruzou os braços por cima do peito, não só em jeito de protecção como pelo frio que ali se fazia sentir, pelo eco dos seus passos, percebeu que não devia ser um espaço muito grande e por isso continuando encostada à parede foi andando para tentar dar a volta ao local à procura de algo que lhe pudesse oferecer visibilidade. A ideia de poder ter algo mesmo à frente dela sem o estar a ver aterrorizava-a sobremaneira.

Com passos lentos, um pé depois do outro, foi caminhando até que se sentiu a esbarrar em algo,mas... não era algo completamente sólido, sentiu um formigueiro nas pernas no local onde tinha tocado no que ali estava, sentia que se quisesse podia atravessar aquilo. O seu coração disparou a uma velocidade astronómica e com a força de um tambor, conseguia sentir a sua pulsação na garganta sem lhe tocar. Com as mãos trémulas foi-se baixando para poder apalpar aquilo que lhe tinha interrompido o caminho, podia ser só uma impressão sua e talvez houvesse ali um caixote com uma lanterna. Assim que pousou as suas mãos no que ali estava, sentiu de novo um formigueiro nos dedos e com a impressão que sentiu retirou-as imediatamente. Cambaleando chegou-se para trás com medo do que podia ser aquilo.

Com os olhos arregalados e as mãos a taparem a sua boca aberta de espanto, viu que o que ali estava, tinha começado a adquirir um pequeno brilho que estava gradualmente a aumentar, o que era aquilo?
Chegou-se mais para trás com medo que o brilho a queimasse e por fim começou a distinguir as formas do que se tinha atravessado no seu caminho.

Tinha cabelo escuro e ondulado, completamente estático como se tivesse levado com toneladas de laca, estava agachado e parecia vestir uma camisola às riscas e umas calças de ganga, a seguir levantou o olhar que se cruzou com o dela.

Ela deixou-se consumir por aqueles dois buracos negros, sentia-se completamente paralisada, finalmente estava em frente à estranha criatura que a habitava aquela casa. Olhou-lhe para os lábios carnudos e para o nariz anguloso, as maças do rosto eram fortemente esculpidas dando-lhe um ar mais sério e adulto.
Ele começa a levantar-se e ela vê que ele deve ter mais 10 cm, à vontade, que ela. As roupas estão-lhe coladas ao corpo e por isso enquanto ela lhe percorre o corpo com o olhar, vê-lhe a definição dos braços e tronco.

À frente dela estava um rapaz, mas que não era humano, o brilho que emanava dele era uma prova irrefutável disso, se não fosse o seu brilho estariam os dois inundados pela escuridão daquela cave fedorenta.


- O que és tu? - cravou os seus olhos esverdeados nos pretos dele, e cruzou os braços por cima do peito, dando a entender que não sairia dali sem algumas respostas.
Ele não fez qualquer menção de lhe responder, limitou-se a olhar para ela como se não tivesse ouvido nada.
- Não me ouves? Não consegues falar? - estava a ficar desesperada com a falta de informação, viu-o a abanar a cabeça deixando que ela se descaísse nos ombros. Ele não podia falar... Como é que ia comunicar com uma pessoa que não podia falar? Tinha que ser ela a fazer as perguntas todas de modo a poder chegar a alguma lado.

- És humano? - ele abanou de novo a cabeça, continuava com os olhar baixo. Não era humano, ela sabia que não tinha imaginado, ele não podia ser humano. Só sabia uma coisa que se adequasse a ele não sendo humano, neste momento.
- Mas já foste humano não já? - ele levantou a cabeça e tinha uma expressão parecida com espanto - Morres-te nesta casa e o teu espírito ficou cá? És um fantasma? - ele abriu a boca como se pretendesse falar, depois perdeu algum do entusiasmo que tinha no olhar ao recordar que não falava mas, apressou-se a assentir com a cabeça. Parecia aliviado por alguém se ter dado conta dele e do que ele era, devia ser muito solidário andar por ali sozinho sem ninguém com quem falar.

Claro que sabia que aquilo não era normal, sabia que não devia ver fantasmas, muito menos falar com um, sabia que supostamente devia sentir medo dele em vez de sentir borboletas na barriga por estar perto dele, sabia que se contasse isto a alguém iriam pensar que era maluca. Mas também sabia que estava certa quanto ao que estava a ver, sabia que ele a tinha ajudado no bosque e à noite nunca lhe tinha feito mal enquanto dormia no seu quarto, e sabia que não ia contar a ninguém. Não queria.

Passaram mais de duas horas em que ela o inundou de perguntas e ele incansavelmente ia abanando a cabeça confirmando ou negando o que ela dizia. No fim conseguiu saber que já ali estava há 5 anos, e que na altura tinha 15 anos, tendo actualmente 20, se é que se podia continuar a contar os seus aniversários. Sabia que se sentia sozinho a maior parte do tempo e que já tinha tentado desaparecer mas, sempre sem sucesso, tinha vontade de saber mais, mas sabia que ele não iria a lado nenhum e que devia subir.

No fim quando se despediu dele para voltar ao piso de cima ficou a certeza de que no dia seguinte se voltariam a ver...



6 comentários:

Carla disse...

Eu nem vou dizer o que me passou pela cabeça. fiu fiu

Sufocada disse...

Ai meu deus... URS, há que controlar os nossos ímpetos ahah :)

Carla disse...

Ninguém manda a menina fazer descrições tão pormenorizadas do moçoilo!

Até me deu calores só de imaginar... ufa!

E porque é que ele não tinha circa 30, hum?

Sufocada disse...

Porque ela é uma menina, e não era pedagógico que ela sentisse borboletas na barriga por um moço de 30... Podia ferir susceptibilidades :P

Carla disse...

Esta necessidade de a ficção ser próxima da realidade, ai! lool

Sufocada disse...

Realmente não tem lógica :P