Sozinha, olho em volta...
Vejo paredes cor de vinho, vejo quadros, livros e estatuetas! Uma cama, com os lençois ás riscas puxados para trás e duas almofadas dispostas ao acaso. Tenho conforto, comodidade e tecnologia...Não chega?
Já não vejo nada, com os olhos castanhos esverdeados marejados de lágrimas mal consigo distinguir onde começo e onde acabo. Tenho um travo amargo na boca que insiste em perdurar, quantas vezes já lavei os dentes?! Espanta-me que ainda os tenha.
Agarro em tão malfadado corpo e transporto-o para cima da cama, deito-me de lado e agarro-me aos joelhos ficando em posição fetal. Apetece-me puxar os cabelos e gritar, gritar tão alto que partiria os vidros.
Quero livrar-me de tudo, penso em atirar tudo pela janela... Quero um quarto nu, tal como eu estou, tal como um ser felpudo, preto e com olhos como duas luas amarelas está, enquanto assiste ao meu desastre.
Não consigo suportar-me, não ouso tocar-me com a repulsa que tenho de mim. Também posso ser lançada da janela? Não sou digna de tal importância. Não mereço que encham uma sala de vestes pretas, gemidos queixosos e choros abafados com dor da perda. Tenho que desaparecer, sem corpo, sem memórias, sem posses, sem nada!
Será justo desistir depois de me ter imiscuido na vida de tanta gente? Não posso simplesmente apagar-lhes a memória de tão trágico acontecimento?
Limpo as lágrimas, deito-me de barriga para cima, com os seios a subir a descer ao ritmo da minha respiração ofengante e fraca. Tremo, não de frio, não de medo...Mas de raiva. E é então que as vejo, as sombras escuras, gélidas e sombrias que tão depressa me estripam quando me sinto miserável.
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