quarta-feira, 24 de abril de 2013

Loucura é não saber que sou maluca

Violeta olhava para a relva verde, através de uma janela alta que abanava, ligeiramente, com a força do vento. Tem a cor dos meus olhos, pensou distraída.
Estava sentada num cadeirão de pele, azul escuro. Era antigo e Violeta não gostava dele, mas estava ao pé da janela e Violeta conseguia passar horas a olhar através da janela. Quando não o fazia, estava no quarto a riscar as paredes e a falar com o seu amigo Sarapinto.

Aos olhos dela, e que bonitos e vivos olhos verdes tinha Violeta, Sarapinto tinha pouco mais de 16 anos, era magrinho e andava com o cabelo, castanho, despenteado. Usava sempre uma camisola azul com riscas brancas e umas calças de ganga puídas. Raramente falava, normalmente passava o serão a olhar para ela enquanto ela falava sobre o que tinha visto à janela, ou sobre o que estava a pintar nas paredes. Mas Violeta gostava muito dele, era o seu melhor amigo, nunca se chateavam e ela podia contar-lhe todos os seus segredos.

Alisando a saia, turquesa, olhou de novo para a relva a pensar porque é que alguém tinha pintado a relva da cor dos seus olhos. Não sabiam inventar outra cor? Não gostava que algo fosse semelhante nela.

Na semana passada, uma rapariga chamada Sofia, tinha lá aparecido, assim que Violeta lhe viu os caracóis ruivos, começou a gritar desenfreadamente pela grande casa, assustando todos os seus hóspedes e provocando o caos absoluto. No fim, já não era só ela que gritava mas todas as 25 pessoas que ali habitavam. Acabou por ser sedada, e só acordou dois dias depois, mas só depois de confirmar que a Sofia já não estava lá é que Violeta voltou a fazer a sua rotina de passar horas à janela.

Já aborrecida de olhar para a relva e esta não apresentar um mudança de cor, Violeta levantou-se do cadeirão e dirigiu-se ao seu quarto, pelo caminho falou ao velho Baltasar que pensava estar num campo de guerra, acenou à senhora Juliana que adorava jogar às cartas e atirou um beijinho ao Rafael que apesar de ter 35 anos, agia como se tivesse 10.

Quando chegou ao quarto olhou em redor e não viu o Sarapinto, desconfiada foi espreitar atrás da porta mas, nada.
Logo agora que lhe queria contar que havia relva na rua que tinha a mesma cor do seus olhos.
Encolhendo os ombros, foi buscar os seus lápis de cera e começou a pensar, qual seria a pintura do dia...

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